Monday, July 23, 2007

Instrutor de magia de Raul Seixas e Paulo Coelho foi investigado por tráfico

O professor de inglês Marcelo Ramos Motta tinha 45 anos na ocasião de sua passagem pela polícia nos anos da ditadura militar. Motta, no entanto, não foi preso por sua ligação com o movimento de cunho libertário idealizado pelo inglês Edward Alexander “Aleister” Crowley e abraçado por Raul Seixas e Paulo Coelho – seus pupilos mais famosos, que tiveram problemas sérios com a polícia política. Sequer chegou a ser preso, aliás. A investigação sobre ele durou quase um mês, sem lances emocionantes ou noites no xadrez, foi conduzida pela Delegacia de Entorpecentes (DPE), não pela temida Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), e nada tinha a ver com magia ou correntes filosóficas.

Para a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Guanabara, Motta era um ilustre desconhecido até que o Departamento Geral de Investigações (DGIE), recebesse as informações materializadas no ofício SSP nº 12.594, datado de 12 de novembro de 1976, em papel que traz o timbre CONFIDENCIAL na borda inferior. Nele, o delegado José Nicanor de Almeida, então diretor-geral do DGIE, informa que, no dia anterior, o departamento recebera a informação de que o cidadão Marcelo Ramos Motta traficava drogas e aliciava adolescentes para o sexo através do vício:

Este DEPARTAMENTO GERAL recebeu e retransmite o seguinte informe:

MARCELO RAMOS MOTTA, professor da Cultura Inglesa, filiais Tijuca e Madureira, seria traficante de entorpecentes. O nominado é proprietário do auto marca Opala, placa PV 60-06.

- Duas estudantes, do citado estabelecimento de ensino, LILIAN e VERA, foram levadas ao vício pelo citado professor.

- Armazena no apartamento onde reside, na rua Saint Roman, nº 259/102, SUBSTÂNCIA TÓXICA, inclusive LSD, dentro de um cofre, podendo ser encontrado, ainda, atrás de uma estante.

- Geralmente, as iniciadas no vício, são possuídas pelo professor.


A denúncia era precisa quanto a nome, profissão, endereço e até marca e placa do veículo de Motta. Na Divisão de Arquivos, para onde foi despachado por Almeida, o documento foi metamorfoseado no Informe nº 03988 DARQ/DGIE, também confidencial, encaminhado com urgência pelo diretor-geral do Departamento Geral de Polícia Civil (DGPC), delegado Sérgio Rodrigues, à DPE. Lá, a missão recaiu sobre o delegado Valterson Alves Botelho.

No dia 6 de dezembro, Motta teve seu apartamento em Copacabana visitado por agentes do DPE, que, munidos de mandado de busca e apreensão – formalidade freqüentemente dispensada naqueles tempos – vasculharam-no em busca de qualquer indício traços de substâncias tóxicas. Não acharam. Nada de LSD dentro de cofre, nem atrás de estante. Os agentes o convidaram a prestar esclarecimentos sobre aquela situação, no dia seguinte, perante o delegado. Retornaram decepcionados à base, supõe-se.

O auto de qualificação de Marcelo Ramos Motta, lavrado pelo escrivão Valter Nogueira nessa visita à DPE, informa que este era filho de Samuel Catarino Motta e Elzira Ramos Catarino Motta, brasileiro, natural do RJ, nascido em 27 de junho de 1931, branco, sexo masculino, professor de inglês da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, sabia ler e escrever.

Os investigadores Osvaldo David Ribeiro e Evaldo Nunes Viana assistiam o interrogatório e serviam de testemunhas. O delegado começou circundando o assunto principal. Perguntou há quanto tempo Motta ensinava na Cultura Inglesa. Começara, respondeu o depoente, na filial da Tijuca há dois anos e, naquele ano, conseguira uma vaga na filial de Madureira. O professor confirmou conhecer as alunas Lílian e Vera, duas colegas de turma na filial de Madureira, que já não estavam mais sob seus cuidados acadêmicos.

Sobre Vera, nada mais disse. Sobre Lílian, no entanto, Motta falou bem mais em seu Termo de Declarações: que ela fora três vezes a seu apartamento, mas não houvera qualquer relação sexual, “normal ou anormal”. Beijaram-se e trocaram carícias, apenas. Disse que como ela tinha apenas “dezessete anos e meio”, não lhe oferecera bebidas alcoólicas. Também negou ter oferecido qualquer tipo de droga, mas confessou, com perigosa sinceridade:

Que durante o período em que viveu nos Estados Unidos, oito anos e meio, ali usou, por medida de estudo dos efeitos mentais, de maconha e de cocaína, mas nunca usou tais drogas habitualmente; que jamais fez qualquer outra experiência com drogas entorpecentes depois que retornou ao Brasil; que inclusive, nunca escondeu de seus conhecidos as experiências aludidas

Quando o delegado Botelho perguntou-lhe a que atribuía a denúncia que fora feita contra si, Motta não titubeou:

– Em razão de minha religião, visto que já registrei uma sociedade místico-maçônica, estando procurando novos membros, o que, por certo, causa irritação a outras organizações religiosas análogas. Sou também completamente anti-comunista e anti-extrema-direita.

Por fim, ele acrescentou que chegou a ser detido em Baton Rouge, na Louisiana, por porte de maconha, mas a acusação não ficou comprovada e não houve processo. Achando ter ouvido o suficiente, o delegado encerrou o depoimento.

Três dias depois, 10 de dezembro, Valterson Alves Botelho concluiu, em relatório reservado ao titular da DPE (cujo nome não é citado no documento), que “nada ficou apurado quanto a ser o nacional Marcelo Ramos Motta traficante ou ter na sua posse substâncias entorpecentes”.

No documento, o delegado narra as inconsistências na denúncia, como a não-existência do cofre ou do contato extra-escolar de Vera com Motta. Menciona que as duas – identificadas como Lílian do Nascimento de Barros e Vera Lúcia Moreira de Souza – foram entrevistadas e negaram que tivessem sido “levadas ao vício”. Botelho encerra o relatório ressaltando que as buscas no apartamento e no Opala de Motta também foram infrutíferas, e despede-se com um seco “Nada mais”.

Thursday, May 03, 2007

Que o mistério descanse em paz

Revelado o maior segredo do jornalismo de todos os tempos! W. Mark Felt, número dois do FBI, foi o informante que levou os repórteres do jornal The Washington Post Carl Bernstein e Bob Woodward a derrubar o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, em 1974.

Desfez-se assim, com pompa e circunstância nas manchetes dos melhores jornalões do ramo, o sigilo da fonte mais famosa da história dos escândalos políticos mundiais. A bomba mereceu tratamento VIP durante vários dias. Oremos a São João Gutemberg, portanto, para que a superexposição do caso que deu novo fôlego ao hoje popular jornalismo investigativo ajude a desidratar as grosseiras deturpações dos acontecimentos que resultaram na renúncia do sr. Richard Milhous Nixon.

Republicano de boa cepa, Nixon fazia campanha forte e endinheirada pelo segundo mandato quando Bernard Baker, Virgilio González, Eugenio Martinez, James McCord Jr. e Frank Angelo Fiorini (também conhecido como Frank Anthony Sturgis) invadiram a sede do Comitê Nacional do Partido Democrata no Edifício Watergate. Reduzir a série de reportagens que jogaram a pá de cal em suas pretensões às revelações feitas pelo Garganta Profunda a Woodward insulta os mais de dois anos de dedicação praticamente exclusiva da dupla dinâmica do Post, até então um jornal de importância mediana na capital dos EUA, como sua própria dona, Katharine Meyer Graham, admitiu na autobiografia “Uma história pessoal”.

Definido por seu criador, Stilson Hutchins, como “um jornal diário democrático”, The Washington Post chegou aos anos 1970 comandado por Benjamin Crowninshield Bradlee, que tinha começado a carreira por lá em 1948. Depois de um período afastado, em passagens pela U.S. Information and Educational Exchange (USIE, órgão governamental que produz a Voz do Brasil de lá) e pela revista Newsweek, voltou ao Post em agosto de 1965. Ao assumir o cargo de editor-chefe, em decidiu que competiria com o poderoso The New York Times. Bradlee é o único do corpo de editores do jornal retratado em maior profundidade no filme de Alan Pakula, “Todos os homens do presidente” (All the President’s men, 1976).

Do editor-chefe durão e do filme, todos lembraram com entusiasmo. Não é para menos. Em 1977, na 49ª edição dos Academy Awards, Jason Robards levou o Oscar de melhor ator coadjuvante pela sua interpretação de Bradlee. O filme também rendeu exemplares da estatueta careca a William Goldman, pelo roteiro adaptado que fez do livro homônimo de Bernstein e Woodward, lançado dois anos antes; a Geoge Jenkins e George Gaines, pela direção de arte e decoração dos sets; e a Arthur Piantadosi, Les Fresholtz, Rick Alexander e James Webb, pelo som.

Houve ainda indicações para o Pakula, o editor, Robert Wolfe, o produtor, Walter Clobenz, e a atriz Jane Alexander, que interpretava a bibliotecária Judy Hoback. E para abrilhantar o papel de Woodward, ainda tinha o bonitão Robert Redford. Bernstein, a outra parte da criatura “Woodstein” – apelido coletivo dado pelos colegas da redação do Post devido à proximidade siamesa que os dois mantinham durante a apuração do caso – ganharia vida na tela na pele do talentoso-ainda-que-narigudo-e-anti-galã Dustin Hoffman.

Infelizmente, a película comete a suprema injustiça de limar, visando dar maior simplicidade à trama, o corpo de editores sem o qual os dois repórteres não teriam liberdade para conduzir suas pesquisas e entrevistas. Por conseguinte, são privados de seus louros o editor-gerente do jornal, Howard Simons (inventor do apelido famoso do informante), o editor Metropolitano, Harry Rosenfeld, e o editor do Distrito de Columbia, Barry Sussman. As contribuições de cada um para a série de reportagens estão descritas no livro “Todos os homens do presidente”, editado no Brasil em 1976, a reboque do filme-pipoca de sucesso, pela Livraria Francisco Alves Editora S.A.

Pena que, ao que parece, ninguém deu muita bola para ele.

A leitura pouparia muita gente dessa visão torta de que foram os jornalistas que “desvendaram” a ligação daquele crime com o primeiro escalão da administração da Casa Branca, como proclamam orgulhosamente os despachos das agências traduzidos nos diários daqui. O nome dos dois repórteres está na boca do povo, ninguém sequer ouviu falar da trinca de promotores Donald Campbell, Earl Silbert e Seymour Glanzer. Do senador Sam Erwin. Ou do juiz John Sirica. Uma pena.

Podemos compor merecidas odes ao jornalismo investigativo da melhor qualidade praticado pelos profissionais do Post que fizeram história, se for o caso. Todavia, por mais que faça bem aos nossos egos mostrar que podemos substituir, com eficácia até maior, certas autoridades constituídas, precisamos lembrar que o FBI conduzia investigações sobre o caso. As reportagens da dupla tiveram, de fato, importância crucial para evitar que o gabinete de Nixon conseguisse conduzir com sucesso sua “operação-abafa” e culpar os cubanos anticastristas de Miami.

Havia ainda a chiadeira democrata. O primeiro a abrir a boca, como eles mesmos contam no livro, foi o diretor nacional do Partido Democrata, Lawrence O’Brien. Quando ainda nem se sabia os nomes reais dos invasores, O’Brien fuzilava, em uma coletiva em Washington: “(a invasão) levanta a mais hedionda dúvida sobre a integridade do processo político que jamais me foi dado encontrar no curso de meus vinte e cinco anos de atividade política. Um simples desmentido, por parte do diretor de campanha do sr. Richard Nixon não será suficiente para dissipar tais dúvidas”.

O que a intrépida dupla fez, basicamente, foi descobrir o que as pessoas diziam aos investigadores quando interrogadas e ligar as peças. E fizeram isso não porque o Garganta Profunda lhes contou, como Wooward sugere, mas porque bateram perna dentro e fora do horário de serviço, tiveram um talento fenomenal para convencer as pessoas a se abrirem a respeito e uma persistência quase desrespeitosa ao abordar quem procurava evitá-los. O papel do informante secreto do ex-oficial da Marinha transformado em jornalista foi confirmar e contextualizar diversas informações, mas ele praticamente só se manifestava quando procurado.

E só era procurado porque por meio do trabalho duro, Bernstein e Woodward conseguiam acompanhar a direção que as investigações seguiam, e às vezes, antecipá-la. Isso depois de começarem o caso sendo pegos com as calças arriadas: foram furados no dia seguinte ao arrombamento pela Associated Press, que enviou despacho afirmando que James McCord trabalhava para o comitê de reeleição de Nixon. Bernstein, que se auto-designou responsável por apurar os perfis dos arrombadores enquanto Woodward acompanhava os primeiros interrogatórios deles diante do meritíssimo juiz James E. Belsen, esqueceu McCord depois que Woodward ligou do tribunal anunciando que este tinha se confessado ex-agente da CIA.

É para lá de falsa a percepção de que os dois monopolizaram as revelações bombásticas da cobertura. Quem soube primeiro da ligação entre os arrombadores e o consultor da Casa Branca E. Howard Hunt Jr. foi o repórter policial da madrugada do Post, Eugene Bachinski. Uma de suas muitas fontes lhe passou a informação de que dois caderninhos de telefones apreendidos com os presos faziam referência a Hunt, um dos fiéis e zelosos seguidores do presidente. O New York Times furou-os, entre outras, na descoberta da origem do dinheiro que financiou a operação fracassada de sabotagem da campanha democrata, em 31 de julho de 1972.

Não faltam exemplos de como os outros veículos também deram suas contribuições, apesar de somente o Washington Post ter investido pesado na história desde o início, e ainda por cima apontando o dedo para o gabinete presidencial. O que nos leva a outro pré-conceito terrível sobre a repercussão deste trabalho na época. Nixon e seus asseclas se disseram vítimas de uma campanha difamatória do jornal, que tinha como editor-chefe ninguém menos que um dos melhores amigos do ícone democrata John Fitzgerald Kennedy – argumento que serve também para comprovar que políticos não são todos iguais somente abaixo do Equador.

Até renunciar, Nixon negou ter aprovado ou mesmo sabido do extenso rol de atividades heterodoxas que seus subordinados desenvolviam para perturbar a campanha democrata. Bernstein e Woodward eram literalmente esculachados nos desmentidos lidos pelo porta-voz da Casa Branca, Ronald Ziegler. Quando vieram à tona fitas gravadas pelo próprio presidente, o batom na cueca se tornou indelével. Ziegler teve de pedir desculpas. O republicano Bob Dole, o mesmo que concorreu há pouco tempo, à presidência dos EUA, classificou o Post de “parceiro (dos democratas) na arte de enlamear” e não teve igual cortesia com os jornalistas.

Isso sem contar as escutas telefônicas, vigilância, intimidação a que eles foram submetidos, etc etc etc.

Revelada a face do Garganta Profunda, bem como de suas motivações, aliás, pouquíssimo abnegadas, faço votos que possamos algum dia derrubar essa muralha de mistificações que envolve qualquer menção ao caso. Pouco importa se Felt estava magoado por ter sido preterido na sucessão do todo-poderoso do FBI, J. Edgar Hoover, se queria proteger a imagem do “Bureau” ou coisa que o valha. Se Woodward tinha códigos elaborados para se encontrar com o ex-espião levemente paranóico. E daí? O papel do Garganta Profunda na apuração foi limitado e não forneceu aos repórteres as informações-chave sobre o que estava acontecendo.

Por quanto tempo vamos continuar valorizando a fonte que Woodward cultivou por seu passado milico, em vez de discutirmos melhor, por exemplo, o papel de Carl Bernstein, que era o veterano da dupla e foi quem levou a praticamente todas as descobertas importantes? Bernstein tinha doze anos de jornalismo e seis no Post, enquanto Woodward estava no jornal há um ano; fora reprovado em sua primeira tentativa de ingressar em uma redação, num teste de admissão, por Rosenfeld, editor que mais anos tarde lhe orientaria durante o Watergate. Aliás, antes de se tornarem parceiros, a cobertura deles foi uma competição acirrada.

Impresso ou na tela, “Todos os homens do presidente” relata como eles conduziram a apuração do caso Watergate, mas os dois lançaram, no mesmo ano, outro livro contando em detalhes como foi o longo desenrolar das investigações que forçaram Nixon a pedir a toalha antes de ser chutado do cargo, manobra que Fernando Collor de Mello aprendeu e tentou sem sucesso repetir por aqui, em 1992. Chama-se “Os últimos dias” e também foi lançado pela Editora Francisco Alves. Trocando em miúdos... existem toneladas de lições de bom jornalismo na cobertura de Watergate. Que tal debater as positivas?

Anatomia de um monstro

Foi uma gestação demorada, a do Monstro. Trinta e dois anos e oito meses, desde a concepção de seu esqueleto pelo nono presidente civil da República, o advogado Washington Luís Pereira de Souza, até que o general Humberto de Alencar Castello Branco lhe fornecesse a musculatura e as presas imprescindíveis para que cumprisse sua missão sagrada: identificar e exterminar subversivos comunistas. O Monstro ficou famoso por uma sigla de três letras que acossou adeptos e simpatizantes do marxismo nos mais distintos segmentos da sociedade, do operário ao estudantil, passando pelo político, artístico e religioso. SNI, abreviatura para Servi-ço Nacional de Informações. Para os íntimos, no entanto, era apenas o Serviço.

Atualmente quase octogenário, rebatizado Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ele vive um momento de profundas dúvidas. Os homens que combateu com ardor por mais de 20 anos chegaram ao poder pelo voto popular. O Presidente da República é um sindicalista que o Monstro deve se arrepender amargamente de ter menosprezado em 1977, chamado Luís Inácio Lula da Silva. O chefe da Casa Civil, um ex-estudante universitário com curso de guerrilha em Cuba, José Dirceu de Oliveira e Silva, que deixou o País em 1969 num avião com mais 14 ho-mens acusados de terrorismo. Qual será seu futuro nesse cenário improvável?

Sobre isso, o jornalista Lucas Figueiredo prefere não tecer hipóteses. Em Ministério do Silêncio – A história do serviço secreto brasileiro de Washington Luís a Lula 1927-2005 (Editora Record, 2005, 591 páginas, preço médio R$ 50), o repórter do jornal Estado de Minas, prêmio Esso por seu trabalho sobre a “máfia dos vampiros” do Ministério da Saúde, dedica-se a contar com riqueza de detalhes e análises a trajetória do principal órgão da comunidade de informações brasileira. A pesquisa, segundo o autor relata no prefácio, consumiu sete anos e resultou em 26 quilos de documentos sigilosos abrangendo o período de 1944 a 2003, além de 120 horas de entrevistas com agentes e ex-agentes.

Dividido em seis partes ordenadas cronologicamente, Ministério do Silêncio mostra como o serviço secreto brasileiro passou de inócuo fórum de discussões requentadas sobre a segu-rança do Estado a instrumento poderoso na guerra contra as organizações revolucionárias “vermelhas”, e como ficou perdido quando os antigos inimigos se tornaram patrões. É ilustra-do, conforme os cânones do bom livro-reportagem, com fotos dos principais personagens e fac-símiles de trechos dos relatórios, estudos e demais papéis a que o autor teve acesso. Mas bem que podia trazer mais íntegras dos tesouros que Figueiredo garimpou em arquivos empo-eirados espalhados pelas bibliotecas do País.

Somando as informações datadas desde a primeira encarnação do Serviço como Conse-lho Nacional de Defesa, passando pela fase do Serviço de Federal de Informações e Contra-Informação (Scifi), à realidade sócio-político de cada época, o jornalista demonstra com clareza a evolução de sua influência na vida do País. Sem deixar que o volume de fatos e datas atrapa-lhe a compreensão da história, não se limita a listar nomes de diretores do órgão e suas biogra-fias, ou a recontar seus momentos mais embaraçosos – que não foram poucos e obras anterio-res como a série Ilusões Armadas, de Elio Gaspari, exploraram em profundidade.

Figueiredo interpreta e contextualiza a trajetória do SNI com precisão. A certa altura, destaca que o serviço secreto foi esboçado, legalmente instalado e efetivamente implantado por três presidentes eleitos democraticamente: Washington Luís, o marechal Eurico Gaspar Dutra (em que pese o fato de ser militar, venceu o pleito em 1946) e Juscelino Kubitschek de Olivei-ra. Ainda que seja verdade, a afirmativa não deve soar como condenação inapelável, já que du-rante todo o período de novembro de 1927 a abril de 1964, o Serviço não fez muito mais do que violar o direito de privacidade dos cidadãos e produzir relatórios mornos.

Com o golpe perpetrado pelos militares que apearam João Belchior Marques Goulart do poder, o Monstro veio à luz. Todo-poderoso e escudado por uma legislação que lhe permitia atividade ampla e sem interferências indesejadas, o SNI passou a ter como missão auxiliar o governo dos militares a impedir que os agentes subversivos fizessem o País dar os passos defi-nitivos em direção ao comunismo totalitário que dominara Rússia, China e Cuba. Para tal, foi dotado de agentes oriundos dos quadros militares, treinados em sua maioria no Estados Uni-dos, onde florescia a paranóia anticomunista que marcou a Guerra Fria.

Na infância, foi tutelado pelo general Golbery do Couto e Silva, o Bruxo, integrante do grupo de oficiais do Exército conhecido como “o pessoal da Sorbonne” nos corredores da Es-cola Superior de Guerra (ESG). Da mesma facção que Golbery vinha o general Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro presidente do ciclo de governantes militares que se encerra-ria em 1985. Entre outras coisas, o Bruxo deu forma à Doutrina de Segurança Nacional que se tornou o Evangelho dos “homens de informações”.

Sua experiência com o ramo começara ainda na Segunda Guerra Mundial, com os cur-sos na academia militar de Fort Leavenworth, no Kansas, em que aprendeu a lidar com os co-munistas. Veterano do Scifi, que passou a coordenar em 1961, por convite do então presidente Jânio da Silva Quadros (curiosamente, outro civil democraticamente eleito), o general Golbery tinha a total confiança do presidente Castello Branco. Dela soube se aproveitar para fazer com que o novo SNI fosse uma agência de espionagem sem paralelo no mundo livre ocidental, com mais poderes que seus parentes nos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha.

O Serviço cuidaria da coleta de informações interna e externamente, coisa que só tinha precedente em regimes como o próprio estado totalitário comunista cuja implantação no Brasil se pretendia impedir. Seu chefe teria status de ministro de Estado, as verbas aplicadas eram substanciais para a época, e o órgão poderia solicitar – em caráter irrecusável, obviamente – a colaboração de quaisquer servidores públicos que lhe aprouvesse. Não haveria, claro, qualquer controle externo. Por razões que só as democracias conhecem, tal projeto foi aprovado no par-lamento e veio a ser regulamentado, depois, por um decreto que ainda por cima deu para o Serviço uma prerrogativa do Ministério da Justiça, a de conceder porte de armas.

A queda do general Castello Branco em 1967 seria, portanto, também a sua derrocada. Ou pelo menos, assim pareceu, à época. De reinado breve, mas marcante, o general Golbery foi substituído na chefia do SNI em 15 de março daquele ano pelo general Emílio Garrastazu Médici, expoente do grupo dos “duros” do presidente Artur da Costa e Silva. Se o Satânico Dr. Go – como era conhecido o artífice do ideário repressivo dos anos de chumbo – colocou para funcionar de fato o Serviço, o general Emílio Médici cuidou de espalhá-lo pelo país, através das Divisões de Segurança e Informações (DSIs) e Assessorias de Segurança e Informações (ASIs) que instalou nos órgãos públicos federais para serem olhos e ouvidos do SNI.

O general Costa e Silva expandiu a linhagem da “comunidade de informações” (desig-nação preferida pelos próprios agentes, segundo o autor), dando vida ao Centro de Informa-ções do Exército (CIE), menos de dois meses depois de tomar posse. Enquanto o irmão mais novo e impetuoso se dedicava ao extermínio dos focos de guerrilheiros urbanos no varejo, o Serviço atuava politicamente. Seu chefe, o general Médici, era um dos que pressionava os cole-gas de farda do gabinete presidencial para atacar sem piedade os inimigos subversivos que apa-reciam na forma de estudantes, operários e até militares descontentes.

Tanto fez o cabeça do SNI pelo fechamento do regime que acabou ungido como her-deiro do comandante dos “duros”, o general Costa e Silva, quando este foi abatido por uma isquemia cerebral no fim de 1969. Sua ascensão levou o Monstro ao centro decisório do gover-no, pouco depois de este ter completado cinco anos de existência. Precisava do poder para li-quidar os grupos armados que não só atormentavam o governo nas capitais como partiam para a guerrilha rural no Pará. O combate foi feroz, deixou dezenas de mortos (do outro lado, bem entendido) mas acabou com o SNI e seus parentes – o CIE, os centros de informação da Ma-rinha (Cenimar) e Aeronáutica (Cisa), além do Dops e dos DOI-CODIs – vitoriosos e o mo-vimento “contra-revolucionário” comunista, destroçado.

Sem inimigo concreto à vista e com uma estrutura hipertrofiada dotada de controle quase total da vida burocrática do País, o Serviço passou a fabricar ameaças à segurança nacional para continuar se fazendo útil. À medida que inchava, chegando aos 5 mil funcionários, mais de cem vezes o que tinha em 1946, assistia o início do processo “lento, gradual e seguro” da abertura política, no governo do general Ernesto Geisel torná-lo obsoleto. Ainda mais, o novo ocupante do Planalto, numa manobra hábil, trouxe de volta o general Golbery, desafeto do general Médici desde que se recusara a transmitir a chefia do SNI em 1967. E o Bruxo retorna-va convencido que era hora de desmontar a comunidade de informações.

Os preparativos do gabinete da presidência para restaurar a normalidade democrática chocaram-se com as mortes ruidosas de presos políticos como o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho, no DOI-Codi de São Paulo, que acabaram resultando na demis-são do comandante do III Exército, Ednardo Ávila de Melo, e do ministro do Exército, Sylvio Frota. Pouco mudou com a saída do general Geisel, principalmente porque escolheu como sucessor justamente o então chefe do SNI, general João Baptista de Oliveira Figueiredo. A le-aldade de Figueiredo para o Serviço e seus antigos companheiros – turma da qual Geisel não fazia parte – foi mais forte que aquela que nutria por seu comandante-em-chefe.

A agonia provocada pela falta de um inimigo tornava-se aguda para o SNI depois de promulgada a Lei de Anistia, em 1979. Supondo uma cobertura maior do que teriam do Palá-cio do Planalto, os radicais da direita perpetraram atentados contra a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 1980, vitimando a secretária Lyda Monteiro da Silva, e o Riocentro, du-rante as comemorações do Dia dos Trabalhadores. Este último, que vitimou um dos homens da comunidade de informações, o sargento Guilherme Pereira do Rosário, o Wagner do DOI fluminense, sepultou as chances de Figueiredo de domar as rédeas do Serviço e deu o pretexto para o general Golbery deixar o governo disparando sua célebre frase sobre o SNI:

“Criei um monstro”, constatava o Bruxo, mais de 15 anos depois do jornalista Edmun-do Moniz, do Correio da Manhã, ter alertado o País com um editorial intitulado “A criação do monstro”.

A transição democrática não foi fácil. O Serviço tentou emplacar candidato à sucessão do general Figueiredo – o coronel Mário Andreazza – mas ele acabou derrotado por Paulo Ma-luf na convenção do PDS. Tentou desestabilizar a campanha de Tancredo Neves, associando-o a comunistas, mas a farsa também não vingou. Quando depois de 21 anos de generais no po-der, o Brasil veria a volta de um civil ao cargo mais alto da República, o SNI temeu por uma onda de revanchismo, e obteve do líder mineiro do MDB a promessa solene de que não have-ria perseguições aos militares que pudessem ter “se desviado dos ideais” do regime militar.

Tancredo Neves não viveu para cumprir sua promessa, e seu sucessor, o vice-presidente José Ribamar Sarney, aceitou de bom grado a ajuda do chefe do SNI, general Ivan de Souza Mendes, para tomar posse mesmo com o descontentamento de algumas parcelas do meio militar. O Serviço aparentemente abandonou a violência ao mesmo tempo em que se man-teve num papel fundamental de abastecer o presidente com informações sobre os agitadores do meio sindical, especialmente um certo torneiro mecânico de São Bernardo do Campo. E ainda passou incólume pela ameaça de extinção na Assembléia Constituinte de 1988.

Nas eleições, viu-se entre a cruz e a caldeirinha. Lula disputava a presidência com outro de seus desafetos, o alagoano Fernando Collor de Mello, que prometia a todo custo dissolvê-lo. Prometeu, mas não cumpriu. Collor rebaixou o Serviço, retirando-lhe o status de ministério de que gozava desde 1964, cortou verbas e entregou-o a um civil. Manteve, contudo, seu cam-po de atuação abrangente e absolutamente livre de qualquer monitoramento. Só com o presi-dente Fernando Henrique Cardoso o Serviço retomou um pouco da moral antiga, ainda que sob novo nome – Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – e estrutura adaptada aos novos tem-pos. E para compreendê-lo, Ministério do Silêncio é obrigatório.

(publicado no Jornal do Commercio, 2005)

Monday, April 30, 2007

A Geni das TVs, e de turbante

Acusada por Israel de anti-semita, pelos EUA de anti-americana, e de adotar posturas “claramente contrárias ao governo” por Egito, Síria, Jordânia, Marrocos, Sudão, Bahrain e Iraque (nas versões Saddam e pós-Saddam), a Al-Jazeera mais parece a versão news broadcast da Geni de Chico Buarque. Todos se aproveitam dela, e não têm pudores em enchê-la de porrada uma vez consumado o abuso.

As grandes redes deram ampla divulgação (ao modo deles, claro) dos vídeos obtidos pela rede para satanizar Osama bin Laden e a Al-Qaeda, enquanto fecham os olhos para as violências cometidas contra seus profissionais ou mesmo se juntam ao coro dos que a apontam como porta-voz do terrorismo. É o preço que se paga por ter uma linha editorial que desagrada dos ashkenazis aos pashtuns.

A Al-Jazeera nasceu no Qatar em novembro de 1996, das cinzas da BBC Arabic Television, fechada sete meses antes devido a uma “pequena discordância” entre os ingleses e os patrocinadores sauditas – a tentativa de censura a um documentário sobre execuções judiciais na Arábia Saudita. Hoje, emprega cerca de 350 jornalistas, sendo 30 correspondentes internacionais.

Fundada pelo Emir do Qatar, xeique Hamad bin Khalifa al-Thani, a rede começou transmitindo apenas seis horas por dia. No ano seguinte, já haviam passado para 12 horas, e, em 1999, chegaram às 24 horas sem pausa. Só veio a ser conhecida do povão, contudo, quando levou ao ar aquilo que as redes americanas seriam depois proibidas pelo governo de transmitir: a palavra do homem que, supostamente, ordenou o ataque de 11 de setembro de 2001.

Seu papel no conflito árabe-israelense lhe valeu a condenação do ex-primeiro-ministro Shimon Peres de “incitar o ódio” contra judeus e “encorajar o terrorismo”. Em outubro de 2002, o secretário de Estado Colin Powell (que a chamou de “irresponsável”) foi reclamar ao Emir, pedindo mudança na cobertura. Levou de volta uma merecida banana e uma frase de efeito:

“Nosso juiz é o público”.

Enganam-se os sharonetes, no entanto, se pensam que os repórteres da Al-Jazeera são recebidos a doce de coco pelos governos árabes. Nos últimos anos, a rede e seus profissionais foram alvos das mais covardes e violentas tentativas de censura, vindas de todos os lados.

Não pretendo tratar da Síria e da Arábia Saudita porque o buraco lá é bem mais embaixo. Bashar Al-Assad e o rei Fahd bin Abdulaziz al-Saud preferem, em vez de simplesmente censurar, usar a Al-Jazeera para identificar e prender os opositores de seus respectivos regimes. Ser fonte da Al-Jazeera lá é crime.

No mais, vejamos...

Em agosto de 2002, o ministro da Informação da Jordânia, Muhammad Adwan, cassou a licença da Al-Jazeera para atuar no país, sob acusação de “provocar sedição no reino” e difamar a família real. Segundo Adwan explicou em entrevista à Agence France Presse, a rede “ultrapassou todos os limites da decência em seus programas ao atacar os líderes da nação e sua nobreza”.

Isso porque convidaram para um debate político um professor americano de origem palestina que afirmou com todas as letras que a família Hussein é subordinada aos interesses americanos.

Em novembro do mesmo ano, o Kuwait seguiu o exemplo da Jordânia. Fechou, pela segunda e última vez, o escritório da rede por lá. O motivo? Reportaram, como convém, que um quarto do país foi entregue ao controle americano à guisa de “espaço para manobras militares” para a “Guerra do Golfo, parte II – A vingança do filho”. Por outro lado, no Bahrain, foram proibidos de cobrir as eleições municipais.

O ministro da Informação, Nabil Yacub el-Hamer, acusa a Al-Jazeera de estar “infiltrated by Zionists”. Na onda, foram censurados também cinco websites mantidos pela oposição no país. As autoridades informaram que eles eram “plataformas para espalhar notícias tendenciosas, rumores e mentiras”. Diferem em algo das americanas?

Em dezembro de 2005, o Sudão também aderiu à moda. Policiais invadiram o escritório da rede em Khartoum, detiveram o chefe da sucursal, o jornalista Islam Salih, depois julgado e condenado a um mês de prisão e multa de 3,2 mil euros, e confiscaram equipamento sob o pretexto (tão falso quanto uma nota de dois dólares) que o maquinário não teria situação regular perante a alfândega.

O motivo de fato? A Al-Jazeera levou ao ar reportagens sobre a escalada da tuberculose entre os trabalhadores braçais nas minas e sobre a guerra civil no sul do país.

Ode a um Herói anônimo

Toda vez que vejo o semblante do judeu grego – e aqui não vai nenhum ponta de anti-semitismo, por favor – que fez fortuna mediante a esperta aplicação de uma das mais velhas fórmulas inventadas pela raça humana para lidar com as massas populares (à base de trigo cozido e diversão de baixo custo e nível), me lembro da singela história de um herói nacional quase anônimo. Vale lembrá-la, para que as gerações posteriores jamais se olvidem da prolífica e abnegada obra deste herói, não por acaso um Jornalista.

Os bondosos generais que tomaram o poder em 64 preparavam-se para entregar o país de volta a uma meia dúzia de civis com os bolsos cheios do resultado da cooperação com o suave regime instalado naqueles últimos 21 anos dourados. Anos em que um governo ilegitimamente constituído – ora, e qual foi legítimo nesta nossa república mesmo? – matou apenas alguns poucos centenas de cidadãos e desapareceu com outras tantas, contra os milhares e milhares dos sanguinários regimes de alguns de nuestros hermanos latinos.

Logo no início do governo da “abertura”, decidiu-se por criar duas novas "vagas" para emissoras de TV nacionais. Ocorre que o “nº 1”, o homem que está no poder, detém a prerrogativa de conceder a quem ele desejar, ou ao que realizar o melhor tráfico de influência ou àquele que despejar mais dinheiro em seus bolsos através dos injustamente crucificados lobistas, a concessão de exploração dos serviços de transmissão de rádio e TV. Assim era então e assim o é até hoje.

Dois jornais que desempenharam o desagradável papel de expor os pontuais desvios do regime – como a instalação de um mecanismo de governo que sistematicamente violava os direitos dos cidadãos que deveria estar defendendo, dos nobres objetivos da redentora revolução – pleiteavam as concessões.

Rapidamente, nosso Herói (ex-assessor de imprensa do mesmo general) se mobilizou para garantir que uma delas ficasse nas mãos do seu então patrão, que não era jornalista, mas um gráfico cuja experiência jornalística praticamente se resumia a uma revista de fotos grandes e dedicada ao puxa-saquismo do governo em tempo integral. A única coisa que poderia comprometer a concessão era o fato de a referida revista fazer uma cobertura carnavalesca que beirava o pornô.

O intimorato Jornalista não teve dúvidas: candidatou-se a vaga de guardião da moral da nova emissora, e conquistou o objetivo. O mesmo abnegado homem de notícias ainda ajeitou o meio de campo para que o ex-camelô com queda para o trambique honesto, que explora apenas a boa fé da pessoa, assumisse o outro, privando-nos para sempre da possibilidade de uma emissora de TV minimamente inteligível.

Colocou-o em contato, por acaso, com um militar com quem o camelô servira no quartel e os dois puderam relembrar muitos episódios da caserna enquanto discutiam a proposta de uma rede que não se metesse muito nesse negócio de política, que é bastante complicado. Como “seu Sílvio” estava interessado mesmo era em grana, não houve problema. Não bastasse isso, o sobrinho do camelô era genro do milico que comandava a CIA tupiniquim, o que só fez facilitar a aproximação.

Nos anos seguintes, uma destas faliu, deixando milhares de pessoas desempregadas e sem perspectiva de receber o dinheiro que lhes era devido. Constatou-se que o tal gráfico sabia ser mau patrão como poucos outros o foram, deixou milhões em dívidas trabalhistas e 28 mil cheques sem fundos na praça.

A outra se tornou uma das legítimas encarnações do “ópio do povo” de que falava um daqueles velhos pensadores alemães com nome de quem está limpando a garganta. E tornou multimilionário o seu dono, cuja única incursão pelo mundo da política – uma candidatura a presidente na eleição de 1989 – foi sepultada simplesmente porque ele tinha se esquecido de um detalhe banal como a filiação legítima a um partido político. Teve de comprar a sua, mas o tribunal eleitoral não viu isso com bons olhos porque ele não era cliente da casa e estava atrapalhando um momento muito delicado. Era, afinal, a primeira vez em quase trinta anos que eles teriam de nos fazer acreditar que de fato escolhemos quem nos governa.

O Jornalista de notável dedicação à causa dos seus patrões e incontestável abnegação que nos proporcionou isto tudo fez fama nesta primeira rede – a do gráfico. Apresentava um programa não tratava de assuntos pesados e chatos como denúncias de corrupção, favorecimento, fraude e nepotismo que grassavam debaixo dos negros e vastos bigodes presidenciais. Ou mesmo o dia-a-dia daqueles valorosos homens que estavam retomando o controle das rédeas nacionais para a elite que sempre as teve em mãos.

Nada disso. Ele escolheu assumir o valioso – mas desprezado – papel de bobo da corte.

Em horário nobre, apresentava esquetes leves contendo material de absoluta relevância política como os tiques-nervosos dos políticos e seus gracejos e atos falhos entre um e outro discurso. Dedicava-se com afinco a transmitir ao máximo possível da população brasileira que determinado senador não conseguia pronunciar corretamente a palavra “problema”, por mais que seus assessores soprassem, entre outras valorosas contribuições ao mundo da imprensa. Para que gastar tempo com os projetos em discussão?

O conteúdo do quadro – ou a falta dele – chamou a atenção do Todo-Poderoso Ser Global, que o convocou para servir em suas hostes. A princípio, foi para ocupar posição similar à que ocupava na emissora anterior, mas depois o afilhado dos generais alçou vôos mais altos dentro da empresa do dono do país. E ainda relatou esse episódio todo em um livro para comemorar seus feitos, magnífica obra lançada em 1985.

Hoje, ele ganha mais do que eu, você, e pelos menos mais uns vinte amigos nossos juntos. Mordam-se de inveja, e palmas pra ele.

Thursday, April 26, 2007

O que explica muita coisa...

A Fanta foi criada na Alemanha, em plena Segunda Guerra, pelo representante local da Coca-Cola Company, para compensar a perda de vendas resultando dos boatos de que a empresa seria de propriedade de judeus. Parece teoria da conspiração, difícil de acreditar? Mas não é nenhum segredo.

A Coca-Cola decidiu, no ano passado, fazer um concurso para recriar as propagandas da Coca-Cola no III Reich. Quando foram explicar pros participantes o contexto da brincadeira (http://www.mtcp.co.uk/coca-cola/background.php), tem escrito lá no meio:

"Coke financially supported the Nazis by advertising within Nazi newspapers, in one instance Coke published responses to accusations from rival bottlers that they were a Jewish company. These denunciations were placed in Nazi rags."

Em "A Fórmula Secreta", do jornalista Rick Allen (Editora Objetiva, 1994, excelente leitura), há uma versão minuciosamente narrada do episódio. Allen conta que começou a circular entre esses engarrafadores rivais cópia de um balanço financeiro escrito com caracteres hebraicos. Provavelmente foi obra de um contador judeu qualquer do departamento financeiro, mas o papel foi usado como prova de que a Coca-Cola era judaica até as raízes de coca e de kola.

Max Keith, o CEO da empresa na Alemanha, foi pressionado diversas vezes a admitir nos cargos de direção integrantes do alto escalão do gabinete de Hitler. Negou-se todas e foi perseguido. Na sede da Coca-Cola nos EUA, em Plum Street, Atlanta, os funcionários graduados todos achavam que Keith estava colaborando com os nazistas, o que poderia se tornar embaraçoso para a imagem mundial da companhia.

Quando Hitler caiu, mandaram uma comissão lá investigar o que ele andava fazendo, com vistas a demiti-lo. Os investigadores voltaram com os dados que mostravam que Keith além de não sucumbir às pressões, criou a Fanta para contornar a queda de receita advinda da histeria anti-judaica. O pré-julgamento de Keith fora equivocado, reconheceram os executivos, que forjaram a historinha segundo a qual a falta de matéria-prima para o xarope teria levado Keith a produzir a Fanta, que na época nem tinha gosto de laranja ou uva.

Tanto que com a entrada dos EUA na Guerra, o presidente da empresa, Robert Woodruff, obteve do general Eisenhower permissão para instalar fábricas de Coca-cola em diversas frentes de batalha. Eisenhower, não por acaso, sempre era visto com uma Coca-Cola na mão. Isso tudo foi parte de uma campanha intensa da COca-Cola Company para grudar a sua imagem ao esforço de guerra e escapar de uma restrição fenomenal nas quotas de açúcar que teriam direito para produzir o xarope.

Wednesday, September 27, 2006

Le meilleur guitariste de tout les temps

Finalmente conseguimos instalar eletricidade em nossa casa em Indianola. Isso representou, para mim, principalmente, um rádio e um amplificador para a guitarra. O novo som de T-Bone não me saía da cabeça. Por mais que tentasse, não chegava nem perto dele. O mesmo acontecia com Django Reinhardt. Django era um guitarrista cigano belga que conhecia através de um colega do exército cujo navio tinha passado pela França; ele chegou dizendo que conhecera um músico fantástico.

Esteve no Hot Club de Paris, onde Django estava se apresentando com o violinista Stephane Grapelli. Meu amigo trouxe alguns discos - aqueles 78 rotações grandes e fáceis de quebrar - embrulhados em papel de seda como se fossem jóias preciosas (e eram mesmo). Quando chegou no Mississippi, ele me mostrou. Eu não acreditei no que estava ouvindo.

Mais tarde, li que Django queimou dois dedos da mão esquerda em um incêndio de sua caravana. Esses dedos queimados se colaram no terceiro por uma membrana, de modo que lhe sobravam apenas dois dedos livres. As pessoas o chamavam de “Relâmpago de Três Dedos”, e era mesmo. Ele me pegou com a mesma força de Charlie Christian. Django era um mundo novo. Ele e Grapelli zuniam como demônios. A cadência era só o começo.

As idéias de Django eram o que mais me surpreendia. Ele era livre, leve e veloz como o mais veloz dos trompetes, escorregadio como o mais liso dos clarinetes, corrias pelas cordas com a rapidez de um velocista e a imaginação de um poeta. Era ligeiro como um gato. Músicas como “Nuages” e “Nocturne” me tiravam da minha casa em Indiana e me transportavam pelo oceano até Paris, onde as pessoas bebiam vinho imersas no jazz mais romântico que este mundo já ouvira.

Eu amava a alegria e a leveza da música de Django sua liberdade de fazer o que sentia. Estava na cara que se tratava de um cigano. Sua guitarra era tremendamente sensual, sua atitude do tipo nada-pode-me-deter, inspiradora. Pouco me importava que fosse um milhão de vezes melhor do que eu tecnicamente. Sua música fortalecia uma idéia acariciada em meu coração - a guitarra é uma voz como outra qualquer. A guitarra é um milagre. As cordas e os trastos revelam a personalidade de um ser humano único, seja um cego do Texas ou um cigano da Bélgica.


Riley "Blues Boy" King, em “B.B. King - Corpo e alma do Blues” (Editora Ática, 1998)

Wednesday, September 06, 2006

Inscrição sobre o Grande Portão da Abadia de Thelema

Afastai-vos, hipócritas carolas;
Não entreis, monges sujos, preguiçosos,
Do que os godos mais vis, e gabarolas;
Não achareis aqui tolos ou tolas;
Aqui não entram rufiões e ociosos.
Afastai-vos, farsantes, mentirosos;
Ide pregar além vossas patranhas,
Ide usar mais além as artimanhas.

Os vossos abusos
Tornaram-se em usos
De pura abusão,
E eis que então
Se mostram difusos
Os vossos abusos.

Vós que explorais os autores e os réus,
Afastai-vos daqui, falsos juristas,
Traficantes, escribas, fariseus,
Que lesais os sabidos e os sandeus,
Com autos, citações, liças e listas,
Estendendo os processos; chicanistas,
Afastai-vos, livrando-nos assim
Das demandas inúteis e sem fim.
Processos e pleitos.

São feitos, desfeitos,
Sem lucro nenhum
Para cada um.
Não trazem proveitos
Processos e pleitos.

Afastai-vos, malditos usurários,
Malsãos adoradores do dinheiro,
Que, com muita má fé e embustes vários,
O ouro acumulai, vis onzenários,
Furtando, de janeiro até janeiro,
O que luta e trabalha o ano inteiro,
Tão vorazes, e magros como um galgo,
E só depois de mortos valeis algo.

Não é vossa face
Humana, não faz-se
Humana a ninguém.
Sois ricos, porém,
Humana e ferace
Não é vossa face.

Não entreis, não entreis, velhos mastins,
Que alimentais os ódios, rancorosos,
Nem vós, insufladores de motins,
Que sois das feras vis meros afins,
Insensíveis, covardes invejosos,
Cegos pela ambição ambiciosos.
Com os lobos ide o ódio saciar,
Não desonreis com o ódio este lugar.

O ódio aqui não cabe,
Tudo aqui se acabe
Que do ódio vem,
A ira não convêm,
Pois como se sabe,
O ódio aqui não cabe.

A porta está aberta, é só entrar;
Sede bem-vindos, nobres cavaleiros.
Aqui é vossa casa, este lugar
Há de sempre acolher-vos, abrigar
Os joviais, os bons, os justiceiros;
Aqui são todos francos companheiros,
E se cultivam o entusiasmo e a calma,
A alegria do corpo e a paz da alma.

Reina a amizade,
O mal não há de
Aqui entrar;
É o nosso lar,
Nele em verdade
Reina a amizade.

Entrai, entrai, ó vós que o Evangelho
Com bom senso e verdade anunciais;
Aqui tereis refúgio, honra e conselho,
Proteção contra o erro, ou novo ou velho,
E separados não sereis jamais
Da fé sincera, dessa fé que amais.
Não entra aqui, não fala, não encanta
O inimigo da palavra santa.

O verbo sagrado
Não fica calado
Aqui nesta casa.
Tem vozes, tem asa,
E voa, e é falado
O verbo sagrado.

Entrai, nobres damas da alta linhagem,
Aqui vos esperais virtudes e ventura.
Entrai, belas damas de grande coragem,
Entrai, e encontrareis nessa viagem
Um porto amigo, abrigo à vossa altura,
Uma angra tranqüila e bem segura.
Nobres damas entrai, aqui tereis
O que bem desejais e mereceis.

A vida é suave
Qual canto de ave,
Nem pranto nem dor,
Mas hinos de amor
Quais cantos de ave.
A vida é suave.


François Rabelais, Gargantua et Pantagruel, 1543. Traduzido do original em francês por Rubens Bulad, Shakta Ádynátha Amánáska, 947 '.', disponível em http://www.amrit.com.br

Wednesday, August 30, 2006

Regozijai-vos, herdeiros tupiniquins de Gutemberg

Com o discurso recheado de clichês ("a imprensa é um dos pilares da democracia", "a liberdade é sagrada") típico de quem finge defender uma imprensa livre, o Molusco Presidencial encarou a platéia da 1ª Cúpula Latino-Americana de Líderes de Jornais, encerrada ontem em São Paulo, provavelmente amparado por um par de lentes de contato cor-de-rosa. Para ele, temos “dispositivos institucionais” necessários para que essa “liberdade nunca seja ferida” e a legislação brasileira impede qualquer forma de censura (1).

Se somos esse Éden jornalístico, todavia, qual seria o motivo de figurarmos na 63ª posição do Índex da Liberdade de Imprensa 2005 da ONG francesa Repórteres sem Fronteiras - RSF(2)? O que poderia nos colocar abaixo de potências como Eslovênia (9º), Estônia (11º), Trinidad e Tobago (12º), Benin, Chipre e Namíbia (25º), El Salvador (28º), Cabo Verde (29º), Bósnia Herzegovina (33º), Ilhas Maurício (34º), Mali (37º), Chipre (53º), Níger (57º), Timor Leste (58º), Botswana e Ilhas Fiji (60º) e Albânia (62º)?

Comparado ao que alcançamos em 2003, o 63º lugar nem está tão ruim. No primeiro ano de governo petista, ficamos em 71º. No ano seguinte, galgamos alguns degraus,chegando ao 66º. No último ano da era FHC, quando o Índex formulado a partir de questionários com 50 itens enviados a jornalistas locais, repórteres estrangeiros baseados em um país, pesquisadores, juristas e especialistas regionais começou a ser publicado pela RSF, estávamos confortavelmente instalados no 54º lugar. Um pouquinho menos pior.

Garbosamente, como convém a um operário convertido às maravilhas de Armani, o sr. Presidente vangloriou-se de sermos uma nação na qual "o Estado tem se pautado por não causar qualquer tipo de interferência nos meios de comunicação social".

Verdade. Talvez leve o princípio da não interferência até longe demais.

Que o diga a repórter Maria Mazzei, do jornal carioca O Dia, cuja vida está de cabeça para baixo pela ousadia de ter revelado um esquema de fraudes em seguros a partir da venda de falsos atestados de óbito e da comercialização de corpos, protagonizado por funcionários do Instituto Médico-Legal (IML) e de funerárias(3). Obviamente, não há razão para o Governo federal se envolver, mesmo que a polícia estadual esteja conduzindo a investigação a passo de cágado manco.

O princípio da não-interferência, aliás, parece ter muitos adeptos. Como os cidadãos e eventuais guardas que assistiram o vereador Osvaldo Vivas espancar até a morte o repórter Ajuricaba Monassa de Paula, de (pasmem) 73 anos(4), na cidade fluminense de Guapimirim. O motivo? As denúncias sobre "práticas administrativas questionáveis" que o septuagenário jornalista fazia contra o edil - que por sinal é faixa-preta em artes marciais.

Melhor sorte teve o editor do Jornal do Meio Ambiente, Vilmar Berna, que apenas teve a casa invadida por seis homens, no meio da noite, que o ameaçaram de morte(5). Isso depois de diversos telefonemas em que uma voz feminina avisava que ele seria morto em breve, e de um amigo do jornalista contar-lhe que ouviu falar de um plano para seqüestrá-lo, espancá-lo até a morte e jogá-lo no mar. As autoridades parecem também não estar interferindo muito.

Para Lula, "contamos, felizmente, com todos os dispositivos institucionais necessários para que essa liberdade nunca seja ferida" e "nossa legislação impede qualquer forma de censura". Que os dispositivos existem, ótimo... agora, só resta saber quando começarão a ser colocados em ação. E aproveitando o ensejo, não faria mal alguém avisar o nosso glorioso Judiciário sobre essa questão da legislação.

D'outro modo, o que explicaria a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amapá de proibir a Folha do Amapá de de publicar na internet a matéria de capa "Capiberibe tem 53,6% dos votos válidos e pode vencer no 1º turno", do dia 11 de agosto, sob pena de multa de R$ 10 mil diários em caso de descumprimento? A matéria sobre pesquisa de intenções de voto apontava o candidato do PSB, João Alberto Capiberibe (PSB), como vitorioso no primeiro turno, e foi vetada pela Justiça Eleitoral a pedido da coligação União pelo Amapá (PDT, PMDB, PP, PV, PSC e PRONA).

Se de fato o sr. Presidente está correto sobre os nossos dispositivos institucionais e o arcabouço legislativo, também não encontro razão para o José Ale Nahmad Netto, de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, decretar - sob pena de multa quase R$ 500 por edição (!) em caso de descumprimento - que o jornal O Correio do Estado não podia mencionar o nome do candidato do PMDB ao Governo do Estado, André Puccinelli(7). Ex-prefeito de Campo Grande, Puccinelli está sendo investigado por transferências de dinheiro esquisitas para sua conta bancária, em novembro de 2004.

Isso tudo, claro, foi só o que de mais gritante ocorreu neste ano do Nosso Senhor de 2006. Em 2005 teve mais, muito mais. O radialista José Cândido Amorim Pinto, da Rádio Comunitária Alternativa, de Carpina, em Pernambuco, foi morto a tiros em julho, depois de denunciar nepotismo na prefeitura e na câmara municipal, oito dias depois de sofrer o primeiro atentado. Maurício Melato Barth, dono e editor do jornal Infobairros de Itapema, em Santa Catarina, foi emboscado por dois mascarados e baleado, mas sobreviveu. A proprietária/colunista do semanário Primeira Pagina, do Tocantins, Sandra Miranda de Oliveira Silva, levou somente um chega-pra-lá do governador que criticou.

Nossa lei de imprensa (nº 5.250/67) tão decantada pelo sr. Presidente, assinada pelo primeiro generalíssimo pós-golpe de 1964, foi o instrumento que permitiu a prisão do jornalista José de Arimatéia Azevedo, editor do site Portal AZ, de Teresina, no Piauí. Também é com base nesse belo diploma legal que o editor do Jornal Pessoal, Lúcio Flávio Pinto, homenageado em 2005 com o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), tem 18 processos a responder. Lá fora, é admirado por vir "corajosamente informado sobre o tráfico de drogas, a devastação ambiental, e a corrupção política e empresarial na vasta e remota região amazônica brasileira".

Ele tem informado sobre o tráfico de drogas, a devastação ambiental, e a corrupção política e empresarial. Em retorno, tem sido ameaçado e submetido a uma onda de processos espúrios. Um poderoso proprietário de mídia local, que também é político, agrediu Pinto em um restaurante em janeiro, com socos e chutes. Os guarda-costas do agressor deram cobertura durante o ataque.

Antes de desviar o assunto para o seu tema favorito, o suposto sucesso econômico do país, Lula se gaba de ter assinado a declaração de Chapultepec. Falta explicar por que só o fez no último ano de mandato. Será que estava muito ocupado antes, tentando expulsar o repórter do New York Times Larry Rohter por causa da matéria que o chamava de cachaceiro ou articulando o malfadado Conselho Nacional de Jornalismo (CNJ)?



(1) "Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de encerramento da I Cúpula Latino-Americana de Líderes de Jornais e abertura do 6º Congresso Brasileiro de Jornais", Secretaria de Imprensa e Porta-Voz da Presidência da República, em http://www.info.planalto.gov.br, e "Lula: Estado democrático só se consolida com imprensa livre", O Globo, em http://oglobo.globo.com/pais/mat/2006/08/29/285466286.asp

(2) Reporters sans Frontières, em http://www.rsf.org/rubrique.php3?id_rubrique=554

(3) "Repórter é ameaçada de morte no Rio", Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em http://www.abraji.org.br/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=327&mode=thread&order=0&thold=0, "Threats force O Dia reporter into hiding after writing about trafficking in bodies", Reporters sans Frontières, em http://www.rsf.org/article.php3?id_article=18594, e "Jornalista que denunciou esquema criminoso sofre ameaças", Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=1288

(4) "Assassinado Ajuricaba Monassa", Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=1568, e "Municipal councillor beats 73-year-old freelance journalist to death", RSF, em http://www.rsf.org/article.php3?id_article=18399

(5) "Authorities take a month to react to death threats against environmental journalist", RSF, http://www.rsf.org/article.php3?id_article=18226

(6) "Jornal Folha do Amapá é censurado em caráter liminar pelo TRE", Abraji, em http://www.abraji.org.br/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=325&mode=thread&order=0&thold=0

(7) "Newspaper preemptively fined 168 euros/copy each future issue mentioning candidate for governor", RSF, http://www.rsf.org/article.php3?id_article=17891